Conheça um pouco da fascinante história das Máscaras.
A história por trás das Máscaras
As máscaras são tão antigas quanto a humanidade. A primeira máscara de que se tem notícia data de 30.000 A.C..
O uso da máscara pode ter vários objetivos: representar emoções, revelar ou ocultar sentimentos, esconder o rosto de quem a veste, representar um personagem, ou suas versões místicas e ritualísticas.
Em todas as culturas e todas as formas de utilização é inegável a magia que ela representa.
O Carnaval de Veneza (italiano: Carnevale di Venezia) é um festival anual, realizado em Veneza, Itália; mundialmente famoso por suas máscaras elaboradas.
Em Veneza, o nascimento das máscaras está intimamente ligado ao Carnevale, que teve suas origens no governo do Doge Vitale Faleir (1.084 - 1.096) em decreto oficial datado em 1.094. Originalmente a palavra Carnevale estava associada a um comportamento casto dos penitentes no início da Quaresma, uma espécie de purificação antes dos ritos pascais. Em 1.296, a terça-feira antes da Quaresma passou a ser feriado, sinalizando que a festa popular estava oficializada.
A festa do Carnevale em Veneza, no entanto, está enraizada na tradição da Saturnália, festividade romana em honra ao deus Saturno, onde o renascimento da vida e das forças da natureza, após rigoroso Inverno, era celebrado. O Carnevale Veneziano Medieval correspondia à época na qual os venezianos podiam se permitir divertimentos proibidos em outras épocas do ano. As máscaras permitiam seu disfarce, assim como a possibilidade de ser outro alguém durante algumas horas. Pobres e ricos, nobreza e povo se misturavam em uma alegria ébria e colorida. Qualquer indivíduo podia sair disfarçado em sua bela máscara e expressar-se livremente, atitude que não poderia usufruir em outras ocasiões.
A Piazza San Marco sempre foi o local mais tradicional para as celebrações em Veneza através dos séculos.
A festa era completada pela presença de músicos, atores, saltimbancos, comediantes, teatro de marionetes, adestradores de animais, além de enorme quantidade de peças teatrais e grandes banquetes que se espalhavam pela cidade.
Em algumas épocas, o governo decidiu restringir o uso das máscaras, pois ele se tornara muito frequente e, na maioria das vezes, era ligado à prática de atividades pouco lícitas e pouco cristãs.
Durante o século XVII, o Carnevale Barocco foi uma maneira de salvar a imagem de prestígio de Veneza no mundo e teve sua fama muito difundida até o século XVIII. Embora encorajasse um comportamento licencioso e prazer, foi também usado como proteção para os venezianos. Sob o domínio do rei da Áustria, o festival foi proibido completamente em 1.797, assim como o uso de máscaras. Ele reapareceu gradualmente no século XIX, mas apenas por períodos curtos e acima de tudo para as festas privadas, e tornou-se então uma ocasião para a expressão de criações artísticas.
Depois de uma longa ausência, o Carnevale voltou em 1.979. O governo italiano decidiu trazer de volta a história e a cultura de Veneza, e procurou usar o Carnevale tradicional como a peça central de seus esforços. A reabilitação das máscaras começou com a iniciativa de alguns estudantes universitários venezianos com o objetivo de incentivar o comércio turístico. Hoje, cerca de 3 milhões de pessoas visitam Veneza anualmente na época do Carnevale. Um dos eventos mais importantes é o concurso para “la più bella maschera” ("a máscara mais bonita") realizado no final do Carnevale e julgado por uma comissão de designers internacionais de fantasias e moda.
Ainda em seus primórdios, com a popularização desta forma de disfarce, surgiram vários modelos de máscaras, representando ideias ou personagens, e sua fabricação era assegurada pelos artesãos chamados “maschereri”. No século XI, época correspondente ao início da história do Carnevale, existem registros de uma escola de artesãos especializados em fabricá-las. Os “maschereri” (artesãos de máscaras) tinham um estatuto próprio datado em 10 de Abril de 1.436. Eles pertenciam à classe de pintores e foram ajudados em sua tarefa por pintores famosos que cobravam exageradas quantias por seu trabalho. Os estúdios dos “maschereri” foram se multiplicando e a arte veneziana das máscaras se tornou famosa em toda a Europa.
Dentre os tipos de máscara mais famosos temos o Pantalone, o Arlecchino, o Dotore, a Colombina, o Pulcinella e a Bauta. Cada uma representando um tipo social ou personagem caricatural.
Eis alguns exemplos dos personagens da Commedia dell’Arte:
Pantalone
Pantalone, que significa aquele que veste calças ou figura paterna em italiano, é geralmente representado como um homem velho, triste, com um nariz enorme como o bico de um corvo, com altas sobrancelhas e olhos oblíquos (máscara criada para representar inteligência no palco). Como outras máscaras da Commedia, o Pantalone é também uma meia-máscara.
Discute-se ainda hoje sobre a origem etimológica deste nome: Pantalone teria sido um homem muito rico e, apesar de sua idade avançada, famoso por suas aventuras sexuais. O personagem representa, na Commedia dell’Arte, o conservadorismo hipócrita da sociedade.
Colombina
É a maliciosa criada da Commedia dell’Arte. Personagem cômica que não pode ser tomada como exemplo de virtude; e eterna amante de Arlecchino. Sua vestimenta é simples e, às vezes, traz o colorido da veste de seu namorado.
A Colombina (também conhecida como Columbina) é uma meia-máscara, que cobre apenas os olhos e o nariz e parte superior das bochechas de quem a veste. Muitas vezes, é ricamente decorada com ouro, prata, cristais e penas.
Colombina era uma empregada ou criada, uma soubrette (um papel feminino menor em uma comédia, tipicamente uma serviçal) que foi um elemento adorado do teatro italiano por gerações. Na verdade, a Colombina é uma criação totalmente moderna. Não há quadros históricos que mostrem a sua utilização no palco ou na vida social.
Dotore
Doutor apenas no título, este personagem pode se passar por médico, advogado ou qualquer outra profissão de prestígio, de acordo com a farsa que queira executar. Presunçoso, soberbo, exibe citações latinas decoradas. Quando chamado por aqueles que crêem em suas palavras para realizar alguma tarefa séria, desvia-se com o seu latim misturado a dialetos locais.
Bauta
A Bauta (algumas vezes chamada de Baùtta) é uma máscara grotesca de arte tradicional que foi desenhada para cobrir confortavelmente toda a face, originalmente num simples branco. Hoje pode ser encontrada totalmente adornada.
Ela apresenta um nariz proeminente, uma crista supra-orbitária espessa, uma proeminente “linha de queixo”, e nenhuma boca. O queixo da máscara em forma de bico é desenhado para permitir que o mascarado possa falar, comer e beber sem ter que removê-la, e preservando assim o anonimato do mascarado.
No século XVIII, usada em conjunto com uma capa preta chamada de "tabarro", a Bauta havia se tornado uma fantasia e máscara padronizada da sociedade e regulamentada pelo governo de Veneza. Era obrigatório usá-la em determinados eventos políticos de tomada de decisão quando todos os cidadãos eram obrigados a agir de forma anônima como pares. Apenas os cidadãos (ou seja, os homens) tinham o direito de usar a Bauta. O seu papel era semelhante aos processos de anonimato criados para garantir eleições gerais, diretas, livres, iguais e secretas nas democracias modernas. Além disso, o porte de armas em conjunto com a máscara foi proibida por lei e controlada pela polícia de Veneza.
Medico della Peste
(O Doutor da Peste)
O Medico della Peste, com seu bico longo, é uma das mais bizarras e conhecidas máscaras venezianas; embora não tenha começado como uma máscara de Carnevale, mas como um método de prevenção da propagação da peste. O design marcante teve origem no século XVII quando o físico francês Charles de Lorne adotou a máscara em conjunto com outras medidas sanitárias durante o tratamento de vítimas da peste.
A máscara é branca na maioria das vezes, consistindo em um bico oco e cavidades oculares redondas cobertas com discos de cristal, criando um efeito de estar usando óculos.
A sua utilização como uma máscara do Carnevale é inteiramente uma convenção moderna, e hoje essas máscaras são muito mais utilizadas para decoração.
Os médicos da praga (ou Dotore de la Peste) que seguiram o exemplo de De Lorne usavam o chapéu preto de costume, um longo manto negro, bem como a máscara, luvas brancas e uma vara (de modo a ser capaz de mover pacientes sem ter que entrar em contato físico com eles). Eles esperavam que estas precauções iriam prevenir de contrair a doença.
Moretta - Servetta Muta
A moretta (ou seja, uma senhora escura) ou servetta muta (que significa serviçal muda) era uma máscara de veludo preto oval, pequena e sem alças, com cavidades oculares largas e sem boca, usadas pelas mulheres aristocráticas. É derivada da máscara visard criada na França no século XVI. A máscara tinha o tamanho suficiente para esconder a identidade da mulher e era mantida no lugar pela usuária mordendo um botão ou moeda pequena (as mulheres vestindo esta máscara eram incapazes de falar); podia também ser usada como um véu. O Rhinocerous por Pietro Longhi descreve o uso desta máscara em 1.751.
Zanni
O personagem Zanni é outro clássico do palco. Sua máscara é uma meia-máscara em couro, mostrando-lhe com baixa testa, sobrancelhas protuberantes e um nariz comprido com uma curva inversa no final. Diz-se que quanto mais longo é o nariz, mais estúpido ele é. A baixa testa também é vista como um sinal de estupidez.
Arlecchino
É a máscara mais popular. Seu temperamento é diferente daquele presente em Brighela: enquanto este é astuto, o Arlecchino é pouco inteligente e muito trapalhão. Seu modo de caminhar assemelha-se à dança e seu falar é próprio dos dialetos menos prestigiados.
Ele foi criado para ser uma espécie de "bom selvagem", desprovido de razão e cheio de emoção,
um camponês, um servo, até mesmo um escravo. Sua meia-máscara originalmente de madeira e mais tarde de couro pintada de preto descreve-o como tendo um curto nariz simiesco, sobrancelhas arqueadas, barba arredondada, e sempre um "galo" na testa para representar um chifre de diabo. Ele é um contraponto teatral ao Pantalone e muitas vezes seu servo, aparecendo muitas vezes juntos no palco.
Pulcinella
É, como Arlequim, um servo tosco, mas que pode mostrar-se tanto astuto como covarde. Sua inspiração é Nápoles, enquanto os outros são inspirados na sobriedade de Bolonha. Seu espírito napolitano lhe traz vivacidade.
Fizemos assim, um breve passeio pela história e por alguns dos personagens do "Carnevale di Venezia".